Um aparelho portátil desenvolvido na USP de São Carlos está realizando as primeiras experiências para diagnosticar e tratar o câncer de pele. A tecnologia consiste em usar a fluorescência e padrões de luz para detectar alterações no epitélio de pacientes e realizar o tratamento contra a doença. O instrumento é fruto de um trabalho conjunto da Escola de Engenharia (EESC) e do Instituto de Física (IFSC).
O aparelho anterior ao atual apenas diagnosticava o câncer, sem tratá-lo |
Mardoqueu Martins da Costa, físico e autor da pesquisa que resultou no novo aparelho, diz que o tratamento contra o câncer detectado poderá ser realizado em apenas um dia, por meio do ácido aminolevulínico (ALA). A substância é aplicada como uma pomada na parte de aparência doente e, em seguida, o aparelho emite uma luz ultravioleta na região para realizar o diagnóstico. “Percebe-se que um tecido está lesado porque seus componentes químicos se alteram ao aplicar o ácido e emitir a luz ultravioleta. Assim, quando se tem uma suspeita de câncer de pele, mantemos o ácido na pele e emitimos uma luz vermelha capaz de ativá-lo, realizando o tratamento.” Mardoqueu diz que o papel da luz vermelha, quando emitida na região doente, é oxidar e matar as células com câncer.
O método se contrapõe à cirurgia que é feita atualmente para remover o câncer. “A remoção cirúrgica implica a retirada do tecido doente. Outro método convencional do câncer de pele é a criogenia, que é a utilização de nitrogênio líquido para queimar as lesões. No método fotodinâmico não é preciso haver remoção do tecido”, explica o físico.
O equipamento de diagnóstico e tratamento do câncer de pele abrangerá cerca de 8 mil pacientes. Agora, o pesquisador diz que os objetivos principais são consolidar a técnica que o aparelho apresenta, promover a aceitação do equipamento pela população e buscar a validação do mesmo. “Estima-se que até a metade de 2011 poderemos começar a distribuição pelo Brasil”, diz.
Prevenção contra cáries
Durante sua pesquisa, o físico percebeu que o sistema de diagnóstico também seria capaz de prevenir cáries. “Havia algumas bactérias da boca que fluoresciam quando o aparelho emitia a mesma luz ultravioleta usada para diagnosticar o câncer de pele. Essa fluorescência representa substâncias que, futuramente, poderiam causar cáries. Localizando-as e tratando o problema, conseguimos criar um tratamento anticárie ultrapreventivo”, explica o pesquisador.
Cuidados
Apesar de parecer um tratamento simples e sem grandes complicações, Mardoqueu alerta que há muitas variáveis que garantem a sua eficácia: “A intensidade da luz, o comprimento de onda emitido, a cor e o tempo de iluminação são decisivos para que o método funcione. Também é preciso especificar quais são os tipos de lesões em que o tratamento pode ser feito”, explica.
Futuramente, para a utilização do aparelho, deverá haver uma seleção de médicos. Mardoqueu diz que será necessário um médico responsável, que será um dermatologista, para a realização do tratamento em larga escala.
A dissertação de mestrado Desenvolvimento de um sistema por imagem de fluorescência óptica para uso médico-odontológico foi apresentada à EESC em 12 de fevereiro de 2010. A pesquisa foi orientada por Liliane Ventura Schiabel.
Mais informações: email mardo.abc@gmail.com
Rafaela Carvalho
AgênciaUSP
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