domingo, 21 de novembro de 2010

Gota: conheça as novidades científicas sobre a doença

• Consumo elevado de refrigerantes com açúcar aumenta o risco do aparecimento de gota em mulheres

Dr. Sergio Bontempi Lanzotti
Mulheres que consomem bebidas ricas em frutose, como refrigerantes e sucos de laranja, apresentam um risco elevado de desenvolver gota. Os resultados do estudo foram apresentados por reumatologistas da University of British Columbia, durante a Reunião Científica Anual do Colégio Americano de Reumatologia, evento que reuniu especialistas de todo o mundo em Atlanta, EUA. A gota é causada pelo aumento da concentração sangüínea de ácido úrico, que dá origem a episódios recorrentes de artrite, mediada pela deposição de cristais desse ácido nas articulações. Durante 22 anos, os pesquisadores canadenses acompanharam um grupo de 78.906 mulheres, participantes do Nurses’ Health Study. Neste grupo, 778 casos de gota foram confirmados em mulheres. O aparecimento da doença está diretamente relacionado ao consumo de refrigerantes e outras bebidas com alto teor de frutose, como o suco de laranja. As participantes do estudo que consumiram um refrigerante com açúcar por dia foram comparadas com aquelas que consumiam a bebida apenas uma vez por por mês. No primeiro grupo, foi encontrado um risco 1,7% maior de desenvolver gota. Aquelas que consumiam duas ou mais latas de refrigerante por dia apresentavam um risco 2,4% maior. Em relação ao consumo de suco de laranja, as participantes que consumiram um copo de suco de laranja por dia apresentavam um risco 1,4% maior de desenvolver gota e aquelas que consumiam dois ou mais copos do suco, por dia, tinham um risco 2,4% maior. "Do ponto de vista de saúde pública, o estudo nos alerta sobre um hábito alimentar muito prejudicial nos dias de hoje: o consumo exagerado de refrigerantes com açúcar. Segundo os pesquisadores, é possível que este aumento do consumo de refrigerantes tenha contribuído, em parte, para a duplicação dos casos de gota na nossa sociedade. As novas descobertas indicam que a ligação entre bebidas ricas em frutose e o risco de gota é comparável às bebidas alcoólicas, que são causas conhecidas do surgimento da doença. Como conclusão, para prevenir e tratar a doença é preciso estar atento ao estilo de vida do paciente”, diz o reumatologista Sergio Bontempi Lanzotti, diretor do Instituto de Reumatologia e Doenças Osteoarticulares (Iredo).

• O número de pessoas com gota e hiperirucemia (nível elevado de ácido úrico no sangue) tem aumentado, nas duas últimas décadas

A prevalência de gota nos Estados Unidos mais do que duplicou, entre 1960 e 1990, e a tendência de aumento foi verificada nos anos posteriores, também. Um grupo de pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Boston, constatou o aumento dos casos de gota, entre os adultos dos EUA, durante o período de 2007-2008. Ao todo, 8,3 milhões de adultos apresentavam a doença, o que corresponde a 3,9% dos adultos no País. O percentual encontrado pelos pesquisadores é 1,2% superior ao valor temporal de 1988-1994, quando o registro era 2,7%. Os pesquisadores americanos atribuem esse aumento à maior prevalência de gota entre os homens e idosos. Durante o mesmo período, a prevalência de hiperuricemia aumentou 3,2 % (de 18,2 % para 21,4 %). Os níveis médios de ácido úrico também subiram para 0,15 mg / dl. "As descobertas dos pesquisadores americanos indicam que a prevalência de gota e de hiperuricemia continuará a ser substancial no novo milênio. Fatores que contribuem para o aumento destas doenças também estão aumentando, como a obesidade e a hipertensão. Reumatologistas de todo o mundo precisam pensar numa melhor gestão da doença, que pode ajudar a prevenir o aumento continuado da gota e de outras complicações associadas", destaca Sérgio Lanzotti.

• Altos níveis de ácido úrico podem causar pressão alta

Há muito sabemos que pessoas com altos níveis de ácido úrico no sangue também podem apresentar pressão alta. No entanto, não sabíamos se estas duas condições ocorriam conjuntamente ou se um estado precede o outro. Pesquisadores do Boston Medical Center, recentemente, conseguiram determinar que o ácido úrico excessivo aumenta o risco para o desenvolvimento futuro de hipertensão. Eles realizaram uma meta-análise de 18 estudos já publicados sobre o tema. Dentre os estudos analisados, foram verificados dados de 55.607 participantes, incluindo 13.025 participantes com hipertensão arterial. Os pesquisadores observaram que os participantes com hiperuricemia apresentaram 40% de chances a mais de desenvolver pressão alta do que os participantes sem hiperuricemia. As mulheres com maiores níveis de ácido úrico e as pessoas que desenvolveram níveis elevados de ácido úrico, em uma idade relativamente jovem, apresentaram alto risco de desenvolver pressão alta. "Os resultados desta meta-análise mostram que pessoas com níveis elevados de ácido úrico têm um risco aumentado para o desenvolvimento futuro de hipertensão arterial, mas isso não significa que o ácido úrico é diretamente responsável pela pressão arterial elevada. Assim, os medicamentos que reduzem os níveis de ácido úrico no sangue podem ser úteis também na prevenção ou no tratamento da hipertensão”, explica o reumatologista.

• Bebidas com cafeína podem aumentar o risco de ataques recorrentes gota
A longo prazo, o consumo da cafeína tem sido associado com a diminuição do risco de ataques de gota. No entanto, a curto prazo, a cafeína tem sido associada ao aumento do ácido úrico, o que pode desencadear um ataque. Com base nessas informações conflitantes, pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Boston avaliaram, recentemente, se a ingestão de bebidas com cafeína está associada ao risco de ataques repetidos de gota. 633 pacientes com diagnóstico de gota confirmado foram recrutados para o estudo. Os estudiosos constataram que consumir mais de três ou quatro copos de bebidas com cafeína, nas últimas 24 horas, esteve associado com um risco de 40 a 80% maior de ataque de gota recorrente. O estudo americano verificou que o consumo intermitente de bebidas cafeinadas, como café com cafeína, chá ou refrigerantes foi associado a um risco maior de ataques de gota, mesmo tendo sido levado em conta as demais ingestões de líquidos dos pacientes. Já o consumo de bebidas sem cafeína não foi associado a um risco aumentado de ataques de gota. “Estes resultados sugerem que o aumento episódico do consumo de bebidas com cafeína pode desencadear ataques de gota, a curto prazo, o que revela a necessidade de que pessoas com gota devam discutir com seu reumatologista o manejo da doença. Estes pacientes devem ter em mente que existem fatores de estilo de vida que podem ser modificados para ajudar a reduzir o risco de ataques recorrentes de gota ", destaca o diretor do Iredo.

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