Lítio é possível antagonista contra a doença de Alzheimer |
Pesquisa do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FMUSP) da USP comprova o efeito protetor do lítio para prevenir o aparecimento da doença de Alzheimer. A ação protetora foi verificada em idosos com transtorno cognitivo leve, que têm maiores riscos de desenvolver a doença. O trabalho deverá ser publicado em uma das próximas edições da revista científica British Journal of Psychiatry.
Entre pacientes com transtorno cognitivo leve, cerca de 10% desenvolvem o Alzheimer, um ano após manifestarem sinais de perda de memória. “Um grupo de idosos recebeu uma dose diária de 300 miligramas de lítio, menor do que a utilizada em casos de transtorno bipolar, e outro um grupo controle que recebeu apenas um placebo”, conta o médico Wagner Gattaz, do IPq, que coordena a pesquisa junto com Orestes Forlenza, também do IPq. “Um ano depois, o percentual de pessoas que tomaram lítio e desenvolveram a doença era significativamente menor do que no grupo controle, o que demonstra um efeito protetor.”
A doença de Alzheimer é caracterizada por dois processos biológicos, o aumento da produção de betaamiloide, proteína que se deposita em placas no cérebro (placas senis) e a hiperfosforilação da proteína TAU, um processo que destrói o esqueleto das células. Ambos os processos levam a morte dos neurônios. “O lítio inibe a atividade da enzima GSK 3-Beta, que fosforila a TAU e também participa na produção de beta-mieloide. Portanto o litio seria, potencialmente, o antagonista ideal contra os dois processos”, destaca o médico.
De acordo com Gattaz, os tratamentos existentes apenas retardam a progressão da doença, sem impedir todavia a sua progressão. “Embora os sintomas da doença de Alzheimer, geralmente surjam após a sexta decada de vida, o processo biológico da perda de neurônios começa algumas decadas mais cedo”, observa. “Por isso há a necessidade de desenvolver uma medicação que possa prevenir precocemente o surgimento da a doença.”
Prevenção
Um novo projeto temático, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), realizará experimentos em animais geneticamente modificados para verificar se o lítio, ingerido em doses baixas durante toda a vida, pode prevenir o surgimento da doença de Alzheimer. “Esses animais possuem uma modificação genética que os leva a produzir o betaamilóide”, aponta Gattaz. “Eles receberão lítio desde o nascimento e serão acompanhados por toda a vida para saber se haverá o desenvolvimento da doença.”
O professor ressalta que se os testes com animais e os ensaios clínicos com seres humanos forem bem-sucedidos, seria possível usar o litio na prevenção da doença. “O Brasil é um dos maiores produtores de lítio do mundo”, afirma. “Talvez um dia possa ser possível prevenir a doença de Alzheimer com a ingestão diária de doses minimas de lítio durante toda a vida, por exemplo na água potável, da mesma forma que a adição de flúor na água diminui a incidência de cáries, ou a adição de iodo no sal de cozinha previne doenças da tireóide.”
O médico lembra que dois estudos antecederam os experimentos com os portadores de transtorno cognitivo leve. No primeiro, idosos com transtorno bipolar, doença em que o lítio é utilizado para estabilizar o humor, foram comparados com outros que não receberam a medicação. “Entre os pacientes que tomaram lítio, a incidência de Alzheimer foi cinco vezes menor do que entre os que não tomaram”, conta. O trabalho foi publicado em 2007 no British Journal of Psychiatry.
No estudo seguinte, foi investigado o mecanismo pelo qual o lítio diminui a atividade da GSK 3-Beta. “O mais provável é que o lítio inibe a expressão do gene da enzima”, diz o pesquisador do IPq. O trabalho é descrito em um artigo no European Archives of Psychiatry and Clinical Neuroscience, publicado em 2008.
Mais informações: (11) 3069-7801; email imprensa.ipq@hcnet.usp.br, na Assessoria de Imprensa do IPq
Júlio Bernardes
Agência USP
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