Terapias de reabilitação para pacientes que perderam o movimento dos membros superiores costumam ser monótonas ou exigir equipamentos caros. Pensando nisso, engenheiros da Escola Politécnica (Poli) da USP desenvolveram o Genvirtual, um programa de computador capaz de tornar os métodos de reabilitação mais estimulantes.
Motivação de pacientes aumentouem 10% com os jogos da memória e compositor |
Em testes realizados na Associação Brasileira de Distrofia Muscular (Abdim) a taxa de motivação dos pacientes que usavam o programa aumentou em 10% em relação à terapia convencional, com massinha e bastão.
O software permite que o paciente interaja com jogo da memória e compositor musical virtuais, enquanto passa a mão sobre cartões de papel localizados no campo de visão de uma webcam. Para o sistema funcionar, basta conectar tudo a um computador comum.
O jogo da memória lembra o “Genius”, brinquedo lançado no Brasil na década de 1980. O terapeuta coloca abaixo da webcam os cartões na disposição desejada. Na tela do computador, o software faz aparecer cubos coloridos que giram e brilham em sequências cada vez mais complicadas. A criança precisa tocar nos cartões repetindo a sequência dos cubos da tela.
Já no compositor, o terapeuta posiciona à vista da webcam quadrados com letras que representam as notas musicais. Em resposta, o software faz aparecer na tela cubos coloridos. Quando o paciente passa a mão sobre o cartão, o computador mostra os cubos coloridos sendo apertados e produzindo os sons das respectivas notas. Colocando cartões com desenhos de instrumentos sob a câmera, os pacientes podem “tocar” flauta, guitarra, piano, violão, pandeiro, caixa ou prato.
Mais recursos
“O que tentamos fazer é oferecer mais recursos para que o processo de reabilitação motora se torne mais atraente e divertido”, explica Ana Grasielle Corrêa, engenheira elétrica que desenvolve o programa em seu doutorado no Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Poli.
Software permite decidir atividades e ajustar tamanho, posição e cor dos cartões à necessidade do paciente |
Ela percebeu essa necessidade ao conhecer o setor de terapia ocupacional da Abdim e o de musicoterapia da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD). Os exercícios de terapia ocupacional muitas vezes eram monótonos, causando baixa aderência ao programa de reabilitação. E, segundo Ana, recursos para apoiar atividades de musicoterapia de pacientes com grave comprometimento motor são poucos e caros no Brasil.
“Para tocar piano, por exemplo, era necessário utilizar um adaptador, caso o paciente apresentasse dificuldades em separar os dedos das mãos”, relata. “Pacientes em estágio avançado de uma distrofia muscular não possuíam forças suficientes para tocar pandeiro, caixas e tubas.”
O Genvirtual é mais acessível, porque dispensa o uso da força muscular e o terapeuta pode posicionar os cartões da forma que for melhor para cada paciente. O profissional também pode decidir o tamanho e cor dos cartões, além de elaborar as atividades de acordo com as necessidades do paciente.
“As avaliações realizadas na AACD e ABDIM comprovam que o GenVirtual foi capaz de aumentar a motivação e satisfação tanto dos pacientes quanto dos terapeutas e cuidadores em sessões de reabilitação motora”, explica a pesquisadora.
O programa tem algumas limitações: precisa de ambientes bem iluminados para funcionar e com o tempo e não tem grande efeito em pacientes com limitações graves.
Interessados podem fazer o download e encontrar instruções sobre o Genvirtual no site do projeto.
Mais informações: (11) 3091-9157, email anagrasi@lsi.usp.br, site www.lsi.usp.br/nate/projetos/genvirtual
Nilbberth Silva
Agência USP
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