quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Emagreça sua cabeça


Para especialista em transtorno alimentar, reprogramação do “chip” do paciente é de grande importância para o sucesso do tratamento da obesidade

Com o crescimento em ritmo acelerado da obesidade em nível mundial, muito se tem falado a respeito da necessidade de tratamentos efetivos para combater este grande mal do século 21, como o uso de dietas, exercícios, remédios ou procedimentos bariátricos para a restrição alimentar. Embora todos estes tratamentos tenham embasamentos científicos e sejam eficazes, não é raro ver casos de insucesso no processo de emagrecimento, em virtude de dois fatores importantes que raramente são pontuados e trabalhados no indivíduo obeso: mudança de pensamentos e comportamentos.

De acordo com a psicóloga especialista em terapia comportamental-cognitiva pela USP e transtornos alimentares pela UNIFESP, Marilice Rubbo de Carvalho, a ansiedade é apontada regularmente como um grande vilão para a obesidade, mas a questão é – frequentemente - mais complexa e não somente pela ansiedade e sim por outros transtornos muito mais profundos. “Sentimentos como tristeza, raiva, frustração, entre outros, tem bases em históricos particulares e que levam o indivíduo a buscar no alimento uma fuga”, relata Marilice.

Desta forma, segundo a especialista, se a mente do obeso não for especialmente trabalhada, as terapias externas como dietas, reeducação alimentar, atividade física se tornam mais difíceis para a redução definitiva de peso do individuo. “É algo que parece simples, mas não é, e costuma ser negligenciado até mesmo por especialistas em obesidade”, declara.

Marilice destaca o uso cada vez maior da terapia comportamental-cognitiva para este fim, cuja técnica auxilia na perda e controle de peso através da modificação de pensamentos disfuncionais associados aos hábitos do paciente, como o aprendizado sobre seu comportamento alimentar e entendimento dos sentimentos e pensamentos que o levam a comer. A terapia tem ainda como objetivo gerenciar as emoções do paciente, como melhorar sua auto-estima, reforçar e motivar a importância das mudanças de hábitos, reações de stress, ansiedade e compulsão alimentar. 

“Alguns sentimentos são comuns na maioria dos casos, às vezes provocados por traumas e crenças que geram baixa auto-estima, sensação de inferioridade, infelicidade, e são neles que direcionamos o foco do paciente para uma mudança de percepção e atitude”, revela a psicóloga. 

A importância desta terapia não é somente para quem deseja mudar de comportamento e entender sua relação com a obesidade, mas também para quem recorre às cirurgias de redução de estômago, à colocação da banda gástrica ajustável, ao procedimento endoscópico com balão intragástrico e medicamentos inibidores de apetite. “É essencial que antes de iniciar algumas destas terapias o paciente realize um profundo trabalho de mudança cognitiva comportamental para se preparar para uma mudança na alimentação posterior a estes procedimentos e manter toda a programação necessária para a manutenção do peso perdido”, explica Marilice.
A psicóloga destaca algumas das questões comportamentais e cognitivas trabalhadas com o paciente no sobrepeso e obesidade, que estão relacionadas a comer e tudo que lhe traz insatisfação, e que podem ser observadas e praticadas no dia a dia, durante o tratamento.

Administração do tempo
Para o sucesso do tratamento é preciso trabalhar a organização pessoal definindo as prioridades;
Planejar o tempo executando suas tarefas no dia a dia com tempo hábil para realizá-las sem perder o foco;
Dizer "não" colocando limites em seu âmbito profissional e pessoal;
Não ser perfeccionista e pensar que é "tudo ou nada" é necessário ser flexível
Monitoramento da fome
Antes de se sentar para fazer cada refeição ou lanche, observe as sensações de seu estômago;
Depois escreva as percepções e classifique de 0 a 10 (0 nenhuma fome e 10 maior fome que já sentiu); 
Faça o mesmo no meio do jantar, no final e 20 minutos depois;
  Cartão de vantagens
  • Escreva um cartão com todas as vantagens de emagrecer e leia pelo menos duas vezes ao dia.

Dra. Marilice Rubbo de Carvalho – Psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) - SP, Pós – Graduada em Transtorno Alimentares pela Escola Paulista de Medicina, Pós – Graduada em nutrição pelo Hospital Albert Einstein e especialista em Comportamento Cognitivo pela USP.

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