Dados do Ministério da Saúde revelam que uma em cada quatro pessoas
costuma dirigir depois de beber. Além de o álcool agir sobre o sistema
nervoso central, podendo causar dependência e mudança de comportamento,
em excesso ele também deteriora a visão. Ou seja, muitos acidentes de
trânsito acontecem não só porque o motorista bebeu demais, a ponto de
perder a razão e dirigir acima da velocidade permitida, mas também
porque muitas vezes nem está enxergando direito – principalmente à
noite.
Estudo realizado na Universidade de Granada (Espanha)
comprovou cientificamente que o consumo de álcool afeta a visão noturna,
favorecendo a formação de halos (círculos luminosos) e outras
perturbações visuais. Pesquisadores chegaram à conclusão de que o álcool
modifica o filme lacrimal que reveste a superfície dos olhos, podendo
danificar a qualidade óptica da imagem que percebemos. A rigor, o etanol
das bebidas alcoólicas atinge a camada mais externa do filme lacrimal
(lipídica) e facilita a evaporação da parte aquosa da lágrima. Quando
isso acontece, a imagem formada na retina é distorcida – comprometendo
atividades noturnas, principalmente o ato de dirigir, e podendo causar
acidentes.
De acordo com o oftalmologista Renato Neves,
diretor-presidente do Eye Care Hospital de Olhos (SP), além do excesso
de álcool, doenças oculares como catarata influenciam o modo como o
motorista enxerga, dificultando inclusive a distinção de detalhes da
roupa do pedestre – principalmente se for escura. Sendo assim, os
reflexos necessários para evitar acidentes ficam altamente
comprometidos. Até mesmo baixa acuidade visual pode reduzir a habilidade
de enxergar um pedestre à noite e evitar um atropelamento. Já quando
ciclistas ou pedestres estão usando roupas com detalhes refletivos, a
visão é superior a 80%.
“No Brasil, os acidentes são uma das
principais causas de morte. Portanto, estar em dia com a saúde ocular
costuma evitar boa parte dos acidentes. Até 40 anos, o motorista deve
passar por um exame completo de visão de três em três anos. Entre 40 e
65 anos, esse espaço deve ser reduzido para dois anos. Já depois dos 65
anos, os exames devem ser anuais. Caso o paciente tenha alguma doença
ocular, esse intervalo pode ser até menor. Infelizmente, há muitos
jovens com alto grau de miopia dirigindo sem óculos ou lentes corretivas
– o que representa um risco enorme no trânsito”, diz o médico.
Neves
alerta para o fato de que várias doenças oculares, como o glaucoma – em
que há perda do campo visual – não dão sinais evidentes da sua
presença. São doenças oculares silenciosas. Quanto mais cedo forem
diagnosticadas, maiores são as chances de o tratamento ser bem-sucedido.
“Pessoas que sofrem de degeneração macular (perda gradual da visão
central), diabetes ou têm alguma cicatriz no fundo de olho, também podem
ter um campo visual limitado e visão dupla, devendo ser avaliadas e
orientadas por um especialista. Correm o risco de provocar acidentes,
ferindo a si próprias e aos demais motoristas e pedestres”.
Fontes:
http://www.brasil.gov.br/saude/2015/02/um-a-cada-quatro-motoristas-brasileiros-dirige-apos-consumir-alcool
Prof. Dr. Renato Augusto Neves é médico oftalmologista, diretor-presidente do Eye Care Hospital de Olhos, em São Paulo http://www.eyecare.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário