terça-feira, 31 de agosto de 2010

Técnica melhora absorção de droga quimioterápica pela pele: Pesquisadores da FCFRP estudam o encapsulamento da droga quimioterápica doxorrubicina, aliada a iontoforese

Uma linha de pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP estuda o uso de novos métodos para aplicação de medicamentos pela pele, em particular na quimioterapia contra o câncer de pele. Os pesquisadores, liderados pela professora Renata Fonseca Vianna Lopez, encapsularam a droga quimioterápica doxorrubicina em pequenas partículas de gordura (chamadas nanopartículas lipídicas sólidas), e testaram, in vitro, a iontoforese, técnica que envolve a aplicação, próxima à pele, de uma corrente elétrica de baixa intensidade para aumentar a entrada da droga.

Os resultados, segundo Renata, foram animadores, já que a droga chegou em doses seis vezes maiores até as camadas profundas. Em estudos em cultura de células cancerosas, os pesquisadores observaram ainda que a associação iontoforese nanopartícula aumentou não só a entrada da droga na pele, mas também sua entrada dentro das células tumorais, matando assim mais células doentes.

Estrato córneo
Pele: função do estrato córneo é
limitar a absorção de substâncias


A pele é o nosso órgão mais extenso, cobrindo em média dois metros quadrados de superfície. Uma das funções de sua camada externa, chamada de estrato córneo, é justamente limitar a absorção de substâncias tóxicas do ambiente, além de manter estáveis a temperatura e a quantidade de água no organismo. Mas esta barreira pouco penetrável transforma-se em um problema quando a intenção é fazer dela uma via para aplicação de medicamentos.


Coordenadora dos estudos, a professora Renata Fonseca Vianna Lopez explica que a administração por via endovenosa da droga doxorrubicina, por exemplo, tem que ser feita em altas doses para que o tumor seja atingido, o que provoca muitos efeitos adversos, principalmente no sistema cardíaco do paciente. O tratamento tópico, por sua vez, levaria o fármaco diretamente ao carcinoma, e deste modo seriam necessárias doses menores.

Assim, a professora Renata e sua equipe – que inclui alunos de pós-graduação da FCFRP – utilizaram em laboratório a iontoforese, técnica já conhecida, utilizada no tratamento da hiperidrose (suor excessivo), na administração de anestésicos locais, e na pesquisa de transdérmicos envolvendo substâncias diversas.

Na iontoforese, a corrente elétrica é fornecida por uma bateria e distribuída através da solução que contém a droga com o auxílio de um eletrodo positivo e um negativo. A penetração da substância de interesse pode ocorrer de duas maneiras: por eletrorepulsão e por eletrosmose. Na eletrorepulsão os íons positivos da droga são repelidos no eletrodo positivo quando a corrente elétrica é aplicada e, por conseguinte, são empurrados para dentro da pele. Já a eletrosmose é o fluxo de líquido que ocorre durante a iontoforese, que auxilia na penetração de substâncias neutras (sem carga) e de alta massa molecular.

Porém, no caso da doxorrubicina, mesmo com a aplicação da corrente, o medicamento ainda ficava interagindo no estrato córneo, e não ia completamente para as camadas mais profundas da pele, onde se localizam as células cancerosas. Foi então que os pesquisadores tiveram a idéia de encapsular a droga em pequenas partículas de gordura.

Consequências

Dispositivo iontofóretico modelo "E-Trans", da marca Alza

A explicação para o bom resultado com as nanopartículas ainda está sendo investigada em outros estudos, dentro da mesma linha de pesquisa. Uma das razões cogitadas é o fato de elas protegerem o fármaco do contato direto com o estrato córneo, diminuindo a interação da droga com essa camada da pele. E a iontoforese atuaria forçando a entrada dessas partículas para camadas mais profundas, carreando o medicamento para o local desejado.








Um outro método para aumentar a penetração de substâncias na pele estudado pela docente, em pós-doutorado realizado no Massaschussets Institute of Technology (MIT), envolve a aplicação simultânea de ultrassom e de um composto tensoativo (substância que influencia na superfície de contato entre dois líquidos) na pele. Este pré-tratamento, feito antes da aplicação da droga, altera o estrato córneo e facilita a penetração de substâncias. A pesquisadora verificou, juntamente com o grupo dos professores Robert Langer e Daniel Blankschtein, ambos do MIT, que o método consegue fazer com que nanopartículas rígidas cheguem a camadas bem profundas da pele, podendo até atingir a circulação.


Imagem da pele: wikipedia.org

Imagem do aparelho: divulgação

Mais informações: (16) 3602-4202, com a professora Renata Fonseca Vianna Lopez

Luiza Caires, do USP Online – lucaires@usp.br
Agência USP

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